quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O que uma viagem noturna e uma diurna pode nos ensinar?


Porto Nacional
Recentemente postei aqui no alguns descrições da viagem que fiz a Brasilia para tratar da coleta de dados biométricos e da entrevista para a solicitação do visto americano J. Coloquei algumas fotos de alguns dos belos lugares por onde passamos no trecho entre Arraias (TO) e Alto Paraíso (GO).
Eu já havia feito essa viagem antes de ônibus, com saída de Porto Nacional as 20:00 e retorno saindo de Brasilia as 19:00. Ou seja, nessas viagens de ônibus todo o trajeto é feito durante a noite e os passageiros somente tem acesso visual aos pontos onde ocorrem as paradas: rodoviárias das pequenas cidades ao longo do trecho ou parada em alguma lanchonete/restaurante, como aquela da cidade de Terezina de Goiás, onde se come um pastel muito crocante (mesmo que seja de madrugada).
Pois bem. Fiz esta viagem na ultima segunda feira, indo a Brasilia retirar os passaportes meu, de Lígia e Irepti, com os respectivos vistos. E agora ao passar pelos lugares, tendo conhecimento sobre a paisagem do local, a sensação foi muito diferente. Ao parar em Terezina de Goiás, antes eu via apenas a lanchonete e, fora dela, a escuridão. Mas agora, sabendo que a cidade é ladeada por uma bonita serra, a minha percepção da localidade foi muito diferente, afinal eu sei que a serra e toda a linda paisagem esta lá.
E o que tem isso a ver com ensinamentos? Bem, que conhece a mito da caverna, de Platão, pode perceber a semelhança das situações. Quando eu "conhecia" o caminho apenas na escuridão, eu não sabia o que estava além do espaço iluminado. Tudo que eu podia fazer era imaginar o que haveria depois: talvez a periferia da cidade, talvez um campo de cultivo de soja, talvez pequenas propriedades de criação de gado leiteiro. Mas agora, ao ver o lugar sob a luz do dia, eu sei como ele é.
Assim também acontece comumente quando não conhecemos lugares, pessoas, povos. É como se viajássemos na escuridão. E acabamos formando nossa opinião apenas por pequenas luzes que são as informações que recebemos de outros sobre o assunto. 
Vou exemplificar com o caso da cidade de Manaus e com os povos indígenas.
Nos últimos dois anos tive a oportunidade de conviver bastante em Manaus devido ao curso de Doutorado de Lígia na UFAM. As informações que nos chegam sobre Manaus através da mídia de massa (entenda-se sobretudo sistema Globo) nos leva a criar uma imagem de Manaus que não corresponde a realidade. E um Globo Repórter  em que uma equipe de reportagem navegou o rio Amazonas a partir de Iquitos enquanto outra a partir de Belém, quando o âncora se referiu a Manaus, mencionou o Teatro Amazonas, como uma ilha de cultura do período da borracha, no meio da selva. Por informações como essa, antes de conhecer Manaus eu imaginava o Teatro Amazonas como uma edificação muito linda (que de fato é) cercado pela pobreza. Mas ao conhecer Manaus e o Teatro (sob a luz do dia e sem a escuridão do mass midia brasileiro), minha visão mudou completamente. A região central da cidade de Manaus ainda conserva uma arquitetura belíssima, com estilos do final do século XIX e primeira metade do XX. No entorno do Teatro Amazonas existem edificações belíssimas. O espaço cultural São Sebastião, com o tacaca da Gisela (e o evento do tacaca na bossa, organizado pleo Joaquim toda quarta-feira) e diversos espetáculos ao ar livre, fazem do lugar um espaço muito agradável. Neste espaço pude assistir diversas apresentações de ópera, teatro, musica e desfile de carnaval. Os prédios do Tribunal de Justiça, a praça do Congresso, recentemente  recuperada, bem como o Instituto de Educação do Amazonas e a praça da Saudade, fazem desta parte do centro de Manaus um espaço muito gostoso de conviver. É claro que Manaus tem problemas, como toda cidade tem, mas entende-la pelas informações que recebemos dos meios de comunicação, é como viagem no escuro.
O mesmo vale para todos os povos, indígenas ou não. Quando recebemos informações apenas dos meios de comunicação, viajamos na escuridão e mantemos visões que imaginam o que estaria compondo a paisagem. E acabamos caindo em preconcepções. Mas quando nos dedicamos a ir lá, ver, ouvir e depois escrever sobre eles, vendo-os sob a luz do dia, nossas percepção é outra e a Antropologia tem esse ponto de ser um instrumento para aproximar os povos fazendo a tarefa de transformar o exótico em familiar, ao mesmo tempo que transforma o familiar em exótico.
Da mesma maneira, espero que esta viagem de seis meses aos USA seja uma viagem diurna. E ajude a compreender melhor aquele país. Assim como Manaus, também dos Estados Unidos temos muitas informações fornecidas pelo mass midia
Quando estive lá pela primeira vez foi em abril de 2002. Faziam 7 meses do ataque de 11 de setembro. E já se iniciara os ataques ao Afeganistão e se preparava para o ataque ao Iraque. A questão da guerra era algo corriqueiro. E como fiquei apenas cinco dias daquela vez em Atlanta não trouxe muito boas impressões sobre lá. Para nós brasileiros a guerra é algo bastante distante. Mas para os americanos, parece que a guerra é algo cotidiano. Ouvi de um amigo historiador que a guerra é algo inevitável. Espero que com esta viagem, então, poder entender melhor algumas coisas da América do Norte e não ficar viajando apenas na escuridão.
Acabo de ver o blog da Associação Pempxa, do povo Apinaje. Esse uso de recurso midiático, feito pelos próprios indígenas, é um bom caminho para nos ajudar a fazer viagens diurnas.


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