quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Chegando ao USA - primeiras impressões

Silver Spring, 8:00
Fizemos uma viagem bastante tranquila de Brasilia até Atlanta. Em voo da Delta (dl 222) com direito a um jantar com bom vinho tinto, chegamos a Atlanta por volta de 5:30 da manhã. Preenchidos os papéis para a imigração (uma declaração minha como chefe da familia, com informações sobre o que trazemos na viagem e de onde vamos ficar aqui e outra individual) enfrentamos as inúmeras filas. Todas as bagagens devem ser retiradas, mesmo que se esteja em conexão. Mas antes de retirar as bagagens passa-se pela imigração. Nossos passaportes são conferidos com nossas pessoas. Perguntam qual o objetivo da viagem. Após explicar que é para passar seis meses em pesquisa no Smithsonian, o agente pede os documentos comprobatórios. Apresentados estes, somos liberados com desejos de boa estadia na América.
Um coisa que chama a atenção é a eficiência em organizar as filas e a grande presença de pessoas negras trabalhando no aeroporto. Conversando com Ligia, que notou essa presença, falamos que o sul do USA foi região de plantation, tal como o nordeste brasileiro. Então isso explica a grande presença negra na região.
Na declaração de entrada no país, marquei que estava trazendo alimentos, pois em nossa mala estavam os doces amor-perfeito que trazemos para nossos amigos aqui. E na mala de mão estavam as baby foods da Irepti.
Assim, após passar pela imigração, tomamos o trem interno ao aeroporto e fomos até o terminal A para retirar a bagagem para depois reenvia-la para Washington DC. Tivemos que passar pelo setor de controle de alimentos que queriam saber o que tinhamos trazido. Explico e nossas malas são escaneadas e as baby foods vistoriadas. Tiveram mais cuidado com um resto de leite que estava na mamadeira de Irepti....
Liberados, despachamos a bagagem. Era por volta de 8:00 e esperamos até nosso voo as 12:00.
Enquanto isso, Irepti se divertia com seu cachorrinho e observamos a movimentação da Delta neste terminal. Assim como a Azul domina o aeroporto de Viracopos, alguns terminais deste aeroporto são dominados pela Delta airlines.










Chegamos ao aeroporto de Dulles 14:00hs e, aqui também, há que se tomar um trem dentro do metro para ir do terminal de desembarque até a área de restituição de bagagem. Ao contrário do que acontece nos aeroportos brasileiros, em Dulles as esteiras estão acessíveis para o publico.
Lá encontramos William H. Crocker em pé nos esperando na esteira 14. Nos deus as boas-vindas. Encontramos também com Barbara Watanabe que foi com seu carro (Rosita é o “nome” do carro vermelho dela).
Nossa bagagem não estava rodando na esteira e já haviam se passado alguns minutos esperando. Irepti pediu para eu dar um volta com ela sobre o carrinho (que em Dulles custa $ 0,25 para ser usado). Do outro lado da esteira uma mulher perguntou se eu era Mr. Giraldin. Confirmei e ela disse que minhas malas estavam separadas porque eram muito grandes e pesadas para ir para a esteira. Ela me perguntou se eu estava com os tickets da bagagem. Respondi que iria pegar em minha bolsa do outro lado. De uma maneira confiante, que não é comum encontrar no Brasil, ela disse que eu poderia levar as malas sem apresentar os tickets, acreditando em mim ao dizer quem eu era.
Saimos de Dulles com uma chuva fria e constante. Este aeroporto fica ao sul, em Virginia, e seguimos por uma estrada exclusiva para o transito até o aeroporto. Há quatro mãos em cada lado e no meio esta sendo construída a extensão do metro até o aeroporto. Seguimos por ela até pegarmos a Beltway, uma estrada que circula o distrito federal. Pude observar uma coisa infelizmente pouco comum no Brasil. Mesmo sob aquela chuva fria, havia um policial abordando um carro e verificando documentos do motorista. Na maioria dos estados brasileiros a polícia rodoviária apenas atua nos postos existentes na beira das estradas. Talvez em São Paulo seja possível encontrar policiais vistoriando as estradas.  Essa certeza da presença policial e da aplicação efetiva da lei, leva as pessoas a respeitar as regras. Onde tem uma placa de pare, as pessoas param. Talvez tenha também um sentido de senso de vida em comunidade em que a vida coletiva depende das pessoas individualmente seguir as regras. Deve ser por isso que Barbara arrumou um banco infantil para transportar Irepti.


Ontem conversando com Barbara sobre a inexistência de muros em cada casa, ela me disse que isso se deve a esse sentido de vida compartilhada e que os muros cerceiam esse sentido de vida de vizinhança.
Barbara e Crocker nos levaram até o Comfort In Hotel em Silver Spring. Após nos instalarmos, mesmo com chuva (usando as sombrinhas providencialmente trazidas por Barbara) saímos para comprar algumas coisas para comer e leite para a Irepti. Fomos até Silver Spring Downtown. A chuva apertava e o vento deixava a sensação de frio ainda maior. Apesar de marcar 36 F (algo como 3 graus C) a sensação era de mais frio. Nossas roupas nos serviram para não congelarmos, mas sentimos frio.
Existem muitos estrangeiros aqui. Ao entrar num shopping, perguntei a uma mulher onde poderia comprar leite usando meu sotaque. Ela não entendeu e após três vezes falando que eu queria comprar milk, ela entendeu e falou milk em seu sotaque. Perguntei de onde ela era e me respondeu que era do Nepal. Então ela nos indicou o Whole Foods, um mercado que eu já conhecia do google maps. Encontramos o mercado e pudemos comprar o que precisávamos e também comida pronta vendidas num sistema de self-service. Ligia adorou os pães e as frutas. Compramos e experimentamos as blueberry e blackberry. Irepti pode experimentar o que sempre via apenas nos desenhos animados.
Apesar de estarmos apenas 5 quadras do hotel, a volta foi difícil pois a chuva e o vento aumentaram e a sensação de frio aumentava. Mas o banho quente numa banheira cheia foi relaxante o suficiente a ponto de nos derrubar após comermos.
Ontem tivemos um bom café da manhã com um pão que Ligia adorou. Barbara nos apanhou pontualmente 9:30 e fomos ao Summit Hill assinar os papéis do aluguel do apartamento e pegar as chaves. Barbara trouxe diversas coisas emprestadas para nossos primeiros dias. Em seguida fomos até um Mall (um grande centro de compras) em Wheaton para comprar cookwere (coisas para cozinha), como panelas, frigideira e algumas comidas, sobretudo pensando na necessidade de fazermos comida para Irepti que não comia quase nada desde segunda-feira. Compramos macarrão e ovos que ela comeu legal a noite. No Mall Irepti aproveitou para dar uma voltinha de trenzinho



Passamos a tarde neste shopping e compramos o que precisávamos. E para isso contamos com a inestimável ajuda e paciência de Barbara Watanabe. Porém não comprei um telefone ainda pois aqui o mais comum são os celulares bloqueados em uma operadora. Ao contrario do que acontece no Brasil, onde podemos usar dois chips (SIM card) de operadoras diferentes num mesmo celular, aqui o mais comum é cada operadora vender os aparelhos e o consumidor ter que ficar apenas com aquela operadora. Barbara comenta que neste item o Brasil esta muito mais avançado que os Estados Unidos. Vou pesquisar um pouco mais até encontrar um unlocked cell phone.
Assim passamos nosso segundo dia nos USA e agora temos um endereço aqui: 8504 16th St Apt 404. Silver Spring MD 20910. 


domingo, 24 de fevereiro de 2013

Últimos preparos para iniciar uma viagem antropológica aos USA

Brasilia, 22 hs
Estamos em Brasilia desde sexta-feira. Nos despedimos de nossa casa em Porto Nacional, deixando-a nas mãos de Márcia Gomes e na vigilância de Washington Cavalcante.


Depois de tudo organizado, colocamos novamente a nossa velha amiga Parati na estrada. Como se fosse um cavalo amigo, ela parece gostar de estrada.


Passamos por Natividade para comprarmos doces para levarmos para nossos amigos americanos. Na oficina de Tia Naninha, compramos amor-perfeito.


Em Brasilia cuidamos para a compra das ultimas peças para preparar a viagem. E paramos para tomar um sorvete no gramado do Conjunto Nacional.


Antes de viajar, segui a sugestão do amigo prof. Raphael Pimenta, da UFT, e providenciei a PID (Permissão Internacional para Dirigir). Desloquei-me de Porto Nacional para o Detran de Palmas levando os documentos solicitados por eles. Mas lá descobri que eu poderia ter feito isso na CIRETRAN de Porto Nacional.
O processo é bastante simples pois segue um convenção internacional e todos os motoristas com CNH em vigência podem solicitar a PID, pagando apenas a taxa de R$ 90,00. Não sei se vou dirigir nos USA, mas vou com condições legais para isso.

Agora que estamos prestes a embarcar (nosso voo esta previsto para amanhã as 22:40) reflito que essa preparação para a viagem e a experiência de passar seis meses em Washington tem algo semelhante ao processo de preparar uma viagem de campo para realizar pesquisas com um povo diferente. Assim como quando fui aos Apinaje pela primeira vez, agora também não domino plenamente a língua, mas a imersão me fará TER que aprender para poder entender o modo de vida deles e aprender seus códigos e saber viver entre eles minimamente bem. Tal como quando fui para a aldeia, agora também já se providenciou uma casa para nós habitarmos em Silver Spring (agora já temos um endereço lá, num conjunto chamado Summit Hills). Mas, enquanto na aldeia Apinaje essa moradia não custa nada, em Silver Spring haveremos que desembolsar o valor do aluguel, como é típico daquela sociedade (muito parecida com a nossa, claro!).
Mas temos a sorte de poder contar com a ajuda de alguns amigos. Não precisaremos comprar nem alugar mobilias. Até o proximo final de semana, Don e Barbara nos emprestarão camas, colchões, roupas de cama e mesa, cadeiras, coisas de cozinha, etc. Combinamos de eu e Don carregarmos essas coisas na caminhonete dele e levarmos para nosso apartamento. Até lá, ficaremos meio acampados no apartamento.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O que uma viagem noturna e uma diurna pode nos ensinar?


Porto Nacional
Recentemente postei aqui no alguns descrições da viagem que fiz a Brasilia para tratar da coleta de dados biométricos e da entrevista para a solicitação do visto americano J. Coloquei algumas fotos de alguns dos belos lugares por onde passamos no trecho entre Arraias (TO) e Alto Paraíso (GO).
Eu já havia feito essa viagem antes de ônibus, com saída de Porto Nacional as 20:00 e retorno saindo de Brasilia as 19:00. Ou seja, nessas viagens de ônibus todo o trajeto é feito durante a noite e os passageiros somente tem acesso visual aos pontos onde ocorrem as paradas: rodoviárias das pequenas cidades ao longo do trecho ou parada em alguma lanchonete/restaurante, como aquela da cidade de Terezina de Goiás, onde se come um pastel muito crocante (mesmo que seja de madrugada).
Pois bem. Fiz esta viagem na ultima segunda feira, indo a Brasilia retirar os passaportes meu, de Lígia e Irepti, com os respectivos vistos. E agora ao passar pelos lugares, tendo conhecimento sobre a paisagem do local, a sensação foi muito diferente. Ao parar em Terezina de Goiás, antes eu via apenas a lanchonete e, fora dela, a escuridão. Mas agora, sabendo que a cidade é ladeada por uma bonita serra, a minha percepção da localidade foi muito diferente, afinal eu sei que a serra e toda a linda paisagem esta lá.
E o que tem isso a ver com ensinamentos? Bem, que conhece a mito da caverna, de Platão, pode perceber a semelhança das situações. Quando eu "conhecia" o caminho apenas na escuridão, eu não sabia o que estava além do espaço iluminado. Tudo que eu podia fazer era imaginar o que haveria depois: talvez a periferia da cidade, talvez um campo de cultivo de soja, talvez pequenas propriedades de criação de gado leiteiro. Mas agora, ao ver o lugar sob a luz do dia, eu sei como ele é.
Assim também acontece comumente quando não conhecemos lugares, pessoas, povos. É como se viajássemos na escuridão. E acabamos formando nossa opinião apenas por pequenas luzes que são as informações que recebemos de outros sobre o assunto. 
Vou exemplificar com o caso da cidade de Manaus e com os povos indígenas.
Nos últimos dois anos tive a oportunidade de conviver bastante em Manaus devido ao curso de Doutorado de Lígia na UFAM. As informações que nos chegam sobre Manaus através da mídia de massa (entenda-se sobretudo sistema Globo) nos leva a criar uma imagem de Manaus que não corresponde a realidade. E um Globo Repórter  em que uma equipe de reportagem navegou o rio Amazonas a partir de Iquitos enquanto outra a partir de Belém, quando o âncora se referiu a Manaus, mencionou o Teatro Amazonas, como uma ilha de cultura do período da borracha, no meio da selva. Por informações como essa, antes de conhecer Manaus eu imaginava o Teatro Amazonas como uma edificação muito linda (que de fato é) cercado pela pobreza. Mas ao conhecer Manaus e o Teatro (sob a luz do dia e sem a escuridão do mass midia brasileiro), minha visão mudou completamente. A região central da cidade de Manaus ainda conserva uma arquitetura belíssima, com estilos do final do século XIX e primeira metade do XX. No entorno do Teatro Amazonas existem edificações belíssimas. O espaço cultural São Sebastião, com o tacaca da Gisela (e o evento do tacaca na bossa, organizado pleo Joaquim toda quarta-feira) e diversos espetáculos ao ar livre, fazem do lugar um espaço muito agradável. Neste espaço pude assistir diversas apresentações de ópera, teatro, musica e desfile de carnaval. Os prédios do Tribunal de Justiça, a praça do Congresso, recentemente  recuperada, bem como o Instituto de Educação do Amazonas e a praça da Saudade, fazem desta parte do centro de Manaus um espaço muito gostoso de conviver. É claro que Manaus tem problemas, como toda cidade tem, mas entende-la pelas informações que recebemos dos meios de comunicação, é como viagem no escuro.
O mesmo vale para todos os povos, indígenas ou não. Quando recebemos informações apenas dos meios de comunicação, viajamos na escuridão e mantemos visões que imaginam o que estaria compondo a paisagem. E acabamos caindo em preconcepções. Mas quando nos dedicamos a ir lá, ver, ouvir e depois escrever sobre eles, vendo-os sob a luz do dia, nossas percepção é outra e a Antropologia tem esse ponto de ser um instrumento para aproximar os povos fazendo a tarefa de transformar o exótico em familiar, ao mesmo tempo que transforma o familiar em exótico.
Da mesma maneira, espero que esta viagem de seis meses aos USA seja uma viagem diurna. E ajude a compreender melhor aquele país. Assim como Manaus, também dos Estados Unidos temos muitas informações fornecidas pelo mass midia
Quando estive lá pela primeira vez foi em abril de 2002. Faziam 7 meses do ataque de 11 de setembro. E já se iniciara os ataques ao Afeganistão e se preparava para o ataque ao Iraque. A questão da guerra era algo corriqueiro. E como fiquei apenas cinco dias daquela vez em Atlanta não trouxe muito boas impressões sobre lá. Para nós brasileiros a guerra é algo bastante distante. Mas para os americanos, parece que a guerra é algo cotidiano. Ouvi de um amigo historiador que a guerra é algo inevitável. Espero que com esta viagem, então, poder entender melhor algumas coisas da América do Norte e não ficar viajando apenas na escuridão.
Acabo de ver o blog da Associação Pempxa, do povo Apinaje. Esse uso de recurso midiático, feito pelos próprios indígenas, é um bom caminho para nos ajudar a fazer viagens diurnas.